No dia 7 de Abril comemora-se o Dia da
Mulher Moçambicana. É feriado nacional. As mulheres trabalhadoras da machamba e
da escolinha, todas do Projeto Seiva ao qual pertenço, e nós, as voluntárias,
este ano fomos de capulana azul com flores amarelas.
Fomos de viatura até ao recinto da festa, sendo eu a conduzir com a caixa do carro cheia de mulheres da escolinha. Foi numa dessas levas de pessoal que comecei a ouvi-las cantar em dialecto com o meu nome pelo meio. Quando perguntei o que era elas disseram para eu não me preocupar, para não ficar triste porque tenho a minha família que está perto, elas são agora a minha família, diziam elas. Quando chegámos continuaram a dançar e a cantar o mesmo. Pareciam tribais... Senti-me confortada pelo seu apoio, por se darem como podem e com o que podem.
Fotografia tirada por Júlia Vasques
Fomos de viatura até ao recinto da festa, sendo eu a conduzir com a caixa do carro cheia de mulheres da escolinha. Foi numa dessas levas de pessoal que comecei a ouvi-las cantar em dialecto com o meu nome pelo meio. Quando perguntei o que era elas disseram para eu não me preocupar, para não ficar triste porque tenho a minha família que está perto, elas são agora a minha família, diziam elas. Quando chegámos continuaram a dançar e a cantar o mesmo. Pareciam tribais... Senti-me confortada pelo seu apoio, por se darem como podem e com o que podem.
Cada grupo de mulheres de toda a cidade e
arredores tem a sua capulana característica. Esses mesmos grupos, ao
encontrarem um espaço de tempo disponível por uma espera qualquer, formavam um
círculo e logo começavam a cantar e a dançar, indo à vez para o centro da roda.
É incrível a dinâmica destas mulheres!
Como um bom evento, este dia
foi enriquecido por grupos de cantares, dança e teatro. Este grupo
representou as várias províncias de Moçambique (de sul para norte): Maputo,
Gaza, Inhambane, Manica, Sofala, Zambézia, Tete, Nampula, Cabo Delgado e
Niassa. O Niassa aqui merece especial destaque!
Vários são os grupos representativos das
mulheres moçambicanas, cada um com o seu traje constituído por capulanas e
t-shirts iguais com frases estampadas alusivas aos direitos das mulheres.
Conheci o grupo das senhoras que representam as mulheres da administração do governo da província do Niassa, cuja capital é a cidade de Lichinga.
Como este,
circulavam imensos grupos de mulheres todas vestidas a rigor e consoante aquilo
que representavam. A grande maioria estava a circular ou em roda a cantar e a
dançar. Conseguimos “apanhar” um dos grupos sentado à sombra no jardim que
circunda o monumento dos heróis moçambicanos, local que não se pode fotografar
sem autorização do governo, e local de destaque neste dia. Conversámos com eles
sobre o grande significado de liberdade que este dia representa para elas.
Conheci o grupo das senhoras que representam as mulheres da administração do governo da província do Niassa, cuja capital é a cidade de Lichinga.
Como uma oportunidade de se expressar livremente,
as mulheres de Lichinga vestiram t-shirts com mensagens variadas, cujo tema
central é a luta pela paz e contra a pobreza. Admiro estas mulheres por
comemorarem este dia mesmo 40 anos depois da morte da sua heroína, Josina
Machel. Mas deixa-me a pensar se a evolução desde 1971 foi significativa.
Parece ser, pelos cargos de poder que cada vez mais as mulheres vão ocupando.
Mas para isso ainda têm que ser associadas da Frelimo. Será isto evoluir para a
democracia que desejam?
A pressão é tanta que, contam
elas muito felizes, neste dia há mulheres que aproveitam e batem nos maridos,
pois sabem que eles não podem bater, como
costumam fazer todos os outros dias do ano. Bater e comer, são verbos comuns na vida de um casal...
Para além de organizações que se vê que defendem os direitos das mulheres, circulam também pelas ruas grupos de danças, onde as mulheres são as dançarinas e os homens são os que tocam instrumentos como o batuque e outros que eu nunca tinha visto. Num desses grupo encontrei as tão faladas Macua, que representaram a dança Tufu, que é dançar a saltar à corda e sem corda mas de forma muito característica, com a cara pintada com pintinhas brancas. Incrível como até sentadas conseguiam mexer o corpo como dança e saltar à corda, mesmo parecendo que não saiam do chão. Momento único!
Retirado de Titia amanhã não vou vir, livro que relato a experiência de voluntariado em Lichinga, Moçambique, de uma docente de 1º ciclo.
Para conversar sobre esta experiência ou adquirir o livro envie email para abrantes.sonia@gmail.com.
Bons dias comemorativos!