Chamar "infantil" a uma criança seria uma expressão boa caso tivesse a entoação indicada.
Por vezes não tem, e é essa entoação que as crianças sentem, não tanto as palavras em si.
Chamar o mesmo a um adolescente ou jovem adulto, já pode ferir o orgulho próprio pois estão numa fase de construção de identidade que tanto trabalho dá e tantas dúvidas e erros a acompanha.
Quando dizemos a um adulto:
"Estar a ser infantil."
"Essa decisão foi infantil."
"Que comentário infantil."
E por aí fora... Já poderemos estar a ferir o Outro, mesmo pensando que estamos a ajudá-lo ao chamá-lo à razão dos seus atos.
Poderemos estar a ferir mesmo tendo quase a certeza de que chamar infantil a alguém é uma brincadeira.
Ora... Tal como em qualquer tipo e fase da comunicação, importa primeiro perceber com quem estamos a lidar. Conhecer a pessoa, saber o que ela sente nesse dia, e mais e mais...
Isto apenas se temos real interesse no bem da pessoa, no bem do relacionamento.
Se não sabemos a causa de determinados pensamentos e ações, pura e simplesmente não os devemos julgar sem antes conhecer toda a envolvência.
Mas isso dá trabalho.... Pensar no Outro?
Que infantil que é se levar a mal e tentar defender-se com uma qualquer expressão escrita ou falada que mais parece uma birra.
Terão os adultos direito a fazer birras?
Às vezes há quem mereça ouvi-las!
Às vezes há quem sairia da bolha tendo-as.
Penso que o segredo está em perceber quem somos realmente, como falamos para os outros, como nos comportamos e como os ouvimos e a nós próprios.
Se ser adulto é fingir que somos um potente buldozer e conseguimos levar tudo à frente, sem uma pinga de infantilidade, então sim, sou realmente infantil.
Melhor: assim pretendo continuar até ao dia em que seja velhinha de cabelos branquinhos, costas tortas e bengala na mão. Espero que consiga continuar a rir da vida e da m... que ela me traz. Que posso mais fazer?
Eu sei... Fazer sempre melhor, mesmo tendo errado, mesmo tendo sido chamada de "infantil".
Alguém disse algures no tempo: "As pedras do meu caminho? Apanho-as todas e com elas construo um castelo."
Então agora eu desejo "As ofensas e maldizeres? Guardo-as para não me esquecer de rir com as patetices da vida."
O adulto é-o pois tem controlo nos seus atos, nas suas decisões, no voltar atrás e recomeçar, de fazer e errar e ter a coragem de continuar a fazer, de ponderar em tomadas de decisão que mais ninguém vê nem respeita. Mas pode rir à gargalhada, brincar do mar e no parque quando tal se proporciona, testar limites mesmo que sejam laborais.
Afinal, se não fosse assim, como se conseguiria superar a si próprio?
Optar ficar como de costume? Sim, é uma opção tão válida como outra qualquer.
Viver em stress mesmo sabendo que com bom planeamento e confiança os resultados são melhores? Sim, também é uma opção, não a minha, mas a de alguém.
Viver calmamente, respirando fundo quando o mundo está contra os nossos planos e as pessoas ainda nos espezinham? Sim, também é válido, mas não é infantilidade, é uma opção válida como outra qualquer. Respeitem-na.
Boas infantilidades!