Mas afinal, o que tinham de mal as orelhas de burro utilizadas há muitos anos atrás, quando os alunos menos dotados de inteligência prática demonstravam dificuldades escolares?
Sim... É bom lembrar que alguns adultos de hoje viveram a realidade de utilizar ou ver utilizar orelhas de burro em público, depois de não conseguirem atingir os objetivos num teste.
Hoje seria crueldade, quase mais do que dar as palmadinhas...
Se alguém colocasse orelhas de burro na cabeça, rapidamente apareceria alguém com um aparelho para tirar uma fotografia e colocar nas redes sociais.
Mais grave ainda... Essa mesma fotografia seria viral, ou seja, teria o maior número de visualizações nessa semana. Relembro que quem tem acesso legal à informação na Internet são os adultos, apenas. Os jovens e crianças só o fazem com autorização dos pais/encarregados de educação. Ou será que estou errada?!?! Ou induzida em erro?!?!
A verdade é que as crianças, hoje como ontem ou há alguns anos atrás, acreditam no que os adultos lhes dizem.... Mesmo parecendo que não...
Alguém concluir por nós que somos burros faz-nos acreditar que somos mesmo...
Ficamos com esse rótulo e acabamos por aceitar, vivendo a vida com as derrotas como merecidas e até normais, expectáveis.
Agora venha alguém convencer-me do contrário. agora que já me mentalizei que sou burro...
Até pediria desculpa pela utilização do termo "burro", mas não peço... Não peço pois ouço-o com frequência como se fosse pouco significante.
E, sinceramente, revolta-me imenso...
As palavras são para ser todas utilizadas, conforme o contexto.
As entoações que damos às mesmas palavras, têm impacto diferente, consoante o contexto.
Não é preciso ter aulas de teatro para saber isso. Ou é?
Ora vejam, se dissermos:
- És burro ou quê? Vais escrever "não estudo, por isso não tenho boas notas" dez vezes, para ver se deixas de ser burro.
Será diferente de:
- Não estás a conseguir tirar notas melhores porquê? Sentes alguma dificuldade? Qual achas que será o problema? Podes ter este e estes... E enumerar os vários problemas que poderão ser.
Gostava de ver alguns adultos a utilizar orelhas de burro cada vez que fazem asneira... Isso é que era!
Gostava de ver adultos a escreverem 10 vezes quando dizem ou fazem o que não era esperado.
Gostava também de ver os adultos a ouvirem outra pessoa a repreendê-los como os próprios adultos repreendem as crianças e adolescentes.
Compreendo que há dias que não é fácil, nada fácil... E escapam-nos palavras que ficam gravadas nas pequenas cabecinhas, pois eles acreditam piamente em nós...
As orelhas de burro foram banidas pois começamos a pensar em crianças como pessoas com vontade própria, com consciência, com poder de decisão sobre os seus atos, com mentalidade adaptada a cada faixa etária e não como pequenos bonecos que devem fazer tudo como máquinas que aprendem a viver.
Não nos queixemos, portanto, se as nossas crianças crescem aparentemente bem se as tratarmos como coisas sem raciocínio lógico desde que somos formados seres, mesmo no útero.
Fazer o esforço, por elas, de não sermos loucos e utilizarmos uma comunicação assertiva e adequada à sua idade, leva-nos a vê-las crescer de forma ativa e conscientes de si, preparadas para não ficarem apenas a ver os anos passarem e serem pessoas ativas e não meros espetadores do que a sociedade vai gerando, com mais ou menos dificuldade.
Conversar com os mais pequenos sobre os assuntos do dia a dia e do mundo pode surpreender-nos...
Boas conversas!
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