sexta-feira, 1 de abril de 2011

Malária

Quem não ouviu falar?
Aqui ouve-se como se de uma gripe se tratasse.
Já me tinha interrogado o que se passaria na cabeça de um dos meus alunos que alguns dias chora sem razão aparente, outros doi-lhe muito a cabeça, outros participa na aula, nunca deixando de ser um dos melhores alunos.
No intervalo pede para ficar na sala a ler ou a jogar um jogo (dos poucos livros e jogos que há), nunca se misturando muito com os seus colegas.
Hoje logo de manhã começou a chorar de tal maneira e a queixar-se da cabeça que tive que o pôr fora da sala de aula, depois de lhe cantarmos os parabéns, pois faz anos, e depois de lhe dar uma colher de ben-u-ron infantil.
A Irmã Ferreira que se encontrava na escola viu e tomou logo conta da situação, levando-o ao hospital assim que eu lhe disse que ele queixa-se com frequência mas que hoje estava pior.
No final das aulas fiquei a saber que está internado no hospital com malária de 4 cruzes que, dizem os moçambicanos, é mais fácil de tratar porque tem mais cruzes. Se fosse uma cruz seria pior.
O menino já se tinha queixado aos pais, mas eles nada fizeram. O pai até trabalha no hospital... onde ele está internado agora.
O problema da malária é que, segundo as teorias daqui, se não se trata convenientemente pode chegar ao cérebro e ocorrer a morte.
Não me lembro da primeira vez que o menino se queixou na sala... Até me assusta pensar.
Assusta mais ainda quando penso nos outros 3 alunos que frequentemente se queixam de dor de cabeça e tenho que dar a colher...
Qual a solução?
Mosquiteiras, testes e tratamentos, exterminar os mosquitos...
Mas um menino de 7 anos com família nem ao tratamento por vezes tem acesso directo. Porquê?
Só sei que está no hospital no seu dia de anos! Pelo menos deu para lhe cantar os parabéns e dar-lhe o balão que os aniversariantes recebem.
Ainda bem que se contentam com pouco...

4 comentários:

  1. Depois da tentativa fracassada de visitar o menino durante a sua estadia no hospital, tal não é o espanto ficar a saber que ele nem sequer deu entrada nos internamentos?
    Pois é, como disse antes, a malária nestas terras não é vista como tão grave assim.
    Agora percebo...
    Quando comparada com dois quartos cheios de camas com crianças com tuberculose, secções com crianças com sida, ou camas com crianças com subnutrição das quais distiguem-se bem todos os ossinhos do corpo... Sim, a malária não é tão preocupante, pois tomam-se os medicamentos e passa, esperando que não chegue ao cérebro...
    Os mosquitos que no meio disto são os transportadores de mais uma doença que mata mas que não assusta, voam e alimentam-se sem qualquer cerimónia, e assim continuam...
    Que prioridades dar a este povo?
    E eu estou numa cidade capital da Província do Niassa... Como serão as aldeias por onde passamos?

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  2. Segunda-feira passada lá estava o aluno que tem malária, de regresso à sala de aula, como se nada fosse.
    Veio mais desperto do que muitos dos dias anteriores.
    Menos mal... Espero que tenha passado de vez!

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  3. Com o menino continua tudo bem, mas duas Titias também tiveram, ou ainda têm malária. Como disse antes, os mosquitos circulam e picam sem qualquer cerimónia. Passei a gostar de osgas nas portas e janelas, pois são essas que matam mais mosquitos, porque os comem.
    Sintomas da doença: parecido com gripe, mas é provável ter tonturas, muitas dores de cabeça e muito incisivas, alguma febre, dores musculares e um mau estar indescritível.
    Solução? Fazer o teste no hospital, que é gratuíto para todas as pessoas. Se der positivo, ir às urgências do mesmo hospital e receber as receitas para atacar a malária. Já em casa é que se começa o tratamento e depois disso é cumprir tudo o que foi prescito e esperar que passe.
    Desejar que não venha outro mosquito carregado do que não deve... Isto para uma malária não cerebral. Para esta, inclui estadia no hospital com dosagem intravenosa de quinina. Um ataque violento para uma doença muito violenta.
    Diz o povo de cá que morrem muitas crianças de malária porque as pessoas julgam-se habituadas à doença e tratam todos os tipos de malária da mesma forma. Quando se apercebem que não dá o mesmo resultado com todas, morre uma criança ou até um adulto.

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  4. Olá essa conversa que 4 cruzes não e grave leva me a estar internado a dois dias no icor em Maputo. Não sei qual e a mais forte nem voltar a saber. Está deu me febre acima dos 40 dores em todas as articulações a minha cabeça parecia cheia de cacos de cristal um horror. Mas amanhã já tenho alta. Não quero mais.

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